Quadros

Quadros
"Monte a tela pois temos um modelo à mão."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

..."O que restou, guia-se moribundo pelos percalços das alamedas mal iluminadas das falsas demonstrações de alegrias".

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ah! A Angústia , A Raiva Vil, O Desespero

Ah ! A Angústia, A Raiva Vil, o Desespero

AH! A ANGÚSTIA, a raiva vil, o desespero
De não poder confessar
Num tom de grito, num último grito austero
Meu coração a sangrar!

Falo, e as palavras que digo são um som
Sofro, e sou eu.
Ah! Arrancar à música o segredo do tom
Do grito seu!
Ah! Fúria de a dor nem ter sorte em gritar,
De o grito não ter
Alcance maior que o silêncio, que volta, do ar
Na noite sem ser!
(Fernando Pessoa)

Ausência

Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência, essa ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

.

OS ÂNGULOS DA MORENA
(V.R).
Sempre os ângulos...
Ah os ângulos dessa morena!.
Que me inclinam os vórtices
Me confundem as hipotenusas
Me desviando pela tangente
Nuas espáduas
Cheirando a cigarro, whisky e prazer.
Quando resvalo nas suas quinas
E me perco nas esquinas
Quentes dos seus seios
Me pergunto: E o mapa? Porque quando te vejo
Saio fora do esquadro
E apenas traço
Uma trilha
Até tuas virilhas
A procura da tua cama

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

''À Noite

A Noite / 1Não consigo dormir.
Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras.
Se pudesse, diria a ela que fosse embora;
mas tenho uma mulher atravessada na garganta.

- Eduardo Galeano

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A Um Ausente

Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.Detonaste a vida geral, a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridadesem prazo sem consulta sem provocaçãoaté o limite das folhas caídas na hora de cair.Antecipaste a hora.Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.Que poderias ter feito de mais gravedo que o ato sem continuação, o ato em si,o ato que não ousamos nem sabemos ousarporque depois dele não há nada?Tenho razão para sentir saudade de ti,de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, vozmodulando sílabas conhecidas e banaisque eram sempre certeza e segurança.Sim, tenho saudades.Sim, acuso-te porque fizesteo não previsto nas leis da amizade e da naturezanem nos deixaste sequer o direito de indagarporque o fizeste, porque te foste.
(Carlos Drummond de Andrade)

Porque

Porque
(Carlos Drummond de Andrade)

Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento
O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios
Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo,
Por que não me convertes em rochedo,
Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis,
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer dessa chaga meu prazer?

O efêmero e o eterno

o efêmero e o eterno

(…) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.”
[cecília meireles]